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18 de Fevereiro de 2024

A Igreja - uma comunidade viva

Carta Pastoral para a Quaresma de 2024

Caros irmãos e irmãs na fé,

No lançamento do Sínodo sobre a Sinodalidade, em setembro de 2021, o Papa Francisco usou o termo comunidade - communio - como primeira palavra-chave. Comunhão, participação e missão são os três elementos essenciais através dos quais a Igreja se manifesta de forma concreta e sinodal como povo de Deus.

Mas que significado damos ao termo comunidade? Será que ela existe na nossa Igreja? Que contributo podemos dar, individual e coletivamente, para tornar a comunidade eclesial mais vital?

No início da Quaresma do ano 2024, declarado pelo Papa como o Ano da Oração, e em antecipação da segunda sessão plenária do Sínodo em Roma, em outubro, gostaria de partilhar convosco alguns pensamentos e reflexões sobre o tema: a Igreja, comunidade viva.

O que é uma comunidade?

Não devemos confundir uma comunidade com uma instituição! Uma comunidade é um grupo mais ou menos grande de homens e mulheres, crianças, adultos, idosos, que não é necessariamente muito organizado ou delimitado, mas que baseia a sua existência numa compreensão profunda. São pessoas que se sentem emocionalmente ligadas. Para que as pessoas se sintam bem numa comunidade, a atmosfera deve ser boa e o ambiente cordial, respeitoso e agradável. As pessoas gostam de regressar a um lugar onde se sentem à vontade, de passar tempo juntas e de percorrer o mesmo caminho.

Para uma comunidade eclesial, existe uma outra dimensão, a dimensão vertical, que não só nos une, mas também nos eleva até Deus. O missal da Abadia de Maria Laach introduz o kyrie de forma apropriada: «A força de formar uma comunidade e de nos ouvirmos uns aos outros é-nos dada pelo teu Espírito Santo».

Ao definir uma paróquia como uma comunidade de comunidades, temos de nos perguntar primeiro o que nos une a nível humano. Depois, temos de saber se estamos a confiar na força do Espírito Santo, o Espírito da unidade. Numa paróquia, deve haver lugar para diversas comunidades, grandes ou pequenas, com características luxemburguesas ou com um carácter mais intercultural.

Vale a pena considerar as pequenas comunidades da Igreja primitiva. Sobre as comunidades da igreja primitiva à qual o Sínodo lança um novo olhar, lemos nos Atos dos Apóstolos: «A multidão dos que creram tinha um só coração e uma só alma.» (Atos 4,32) Para nós hoje, talvez isso pareça uma idealização. Apesar disso, devemos viver pelo menos parcialmente essa união, se quisermos ser testemunhas autênticas da fé cristã.

Nesse contexto, gostaria de lembrar a definição da Igreja como uma grande comunidade de comunidades formulada pelo Concílio Vaticano II: «A Igreja é, de certa forma, no Cristo, o sacramento, ou seja, o sinal e o meio da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano.» (LG 1)

Uma comunidade - como é que funciona?

Antes de mais, temos de escutar o Evangelho de Jesus e tentar alinhar a nossa vida com a sua Palavra. Neste primeiro domingo da Quaresma, Jesus diz-nos: "O tempo está cumprido: o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho.

O primeiro passo para estruturar uma comunidade é a conversão. Conversão significa fazer uma autocrítica da nossa vida, refletir sobre ela, mudar de perspetiva e, se necessário, fazer as coisas de forma diferente. Esta é a primeira palavra de Jesus no Evangelho segundo São Marcos. Isto justifica o seu lugar primordial na nossa vida, na vida de cada comunidade cristã e na vida da Igreja no seu conjunto. O Concílio afirmou que a Igreja é «sempre chamada a purificar-se» (LG 1,8). Para mim, como cristão individual, a conversão é sempre necessária, para que eu perceba que não sou Deus e que não devo ignorar os meus semelhantes. Também a Igreja deve questionar-se continuamente e mudar a sua maneira de pensar. Nomeadamente, deve recordar constantemente a si própria que não é o Reino de Deus.

Durante a crise da Covid, o teólogo checo Thomas Halík escreveu o livro “O tempo das Igrejas vazias, da crise ao aprofundamento da fé”. A Igreja é mais do que os espaços eclesiais com belas cerimónias religiosas. Estas são edificantes e importantes, tanto para uma paróquia como para uma diocese, e favorecem a comunhão entre os participantes e com Deus. No entanto, sou igualmente favorável às pequenas comunidades locais onde a Palavra de Deus está viva, e que são marcadas pela oração e pela partilha, seja num espaço sagrado ou numa pequena igreja doméstica. Organizem encontros em pequenos grupos para ler e meditar a Palavra de Deus, para falar da vossa fé, para rezar o terço, para rezar a liturgia das horas, para a adoração. Aproveitem as numerosas ofertas das vossas paróquias e comunidades e participem nos cursos de formação propostos pela diocese ou por outros atores da sociedade. Assumam compromissos caritativos nas vossas paróquias e comunidades, em colaboração com a Caritas ou outras instituições de caridade. Experimentemos a vida comunitária concreta, a nível local e diocesano, e demos-lhe um rosto humano e cristão.

O reino de Deus está a chegar, mas ainda não chegou. Para ajudar a construí-lo, nunca deixemos de escutar Jesus, que nos diz: "Convertei-vos e acreditai no Evangelho!

Uma comunidade cristã - não sem a Sexta-feira Santa e a Páscoa

Na Alemanha, a Sociedade de Língua Alemã escolheu a expressão «modo de crise» (Krisenmodus) como palavra do ano. Conseguimos de alguma forma ultrapassar algumas crises recentes, como a crise bancária e a crise da Covid. Continuamos a enfrentar crises na habitação, na política, no clima, na vida, nos abusos, na fé e muito mais.

Como Igreja no mundo, não fomos de modo algum poupados a todas estas crises. Etimologicamente, o termo vem do verbo grego krino (κρίνω) - eu discirno. Nos seus dois mil anos de história, a Igreja já superou muitas crises, o que nos deve encorajar. Tais situações normalmente pressupõem conversão, o reconhecimento de falhas e pecados, acompanhado de uma mudança em nossos modos de ver e agir. A crise dos abusos, por exemplo, exige essa atitude. A crise da fé é também um tema que temos de abordar em conjunto. Sejamos criteriosos, desde as questões mais pequenas até às mais importantes. Não o podemos fazer sem regressar aos fundamentos da nossa fé, e a Quaresma oferece-nos um momento propício para isso.

Para além das catástrofes naturais, das guerras, da violência e da ocupação sofridas pelo povo de Israel, a crise mais dramática relatada na Bíblia é a da Sexta-feira Santa: a crucificação de Jesus como criminoso. Desiludidos, os seus discípulos fugiram. Muitos deles tinham visto o Messias como um novo governante político que expulsaria os ocupantes e proclamaria um reino poderoso. A Sexta-feira Santa pôs um fim definitivo a todos os sonhos de poder. Os primeiros discípulos de Jesus foram dolorosamente obrigados a mudar a sua visão das coisas: Deus é o Todo Outro. Ele traz a salvação não através do poder e da força, mas através da cruz, um testemunho de puro amor pela humanidade. O encontro com o Senhor Jesus Cristo ressuscitado torna-se o verdadeiro momento do nascimento da Igreja. A Igreja como comunidade viva tem as suas raízes na morte de Jesus na cruz, seguida da sua ressurreição no dia de Páscoa.

Através do Sínodo 2021-2024, o Papa Francisco convida-nos a discernir juntos como podemos ser hoje uma Igreja sinodal e missionária, que, juntamente com toda a humanidade, caminha há mais de dois mil anos com e seguindo o Senhor Jesus crucificado e ressuscitado.

2024: um ano de oração em preparação para o Ano Santo de 2025

Na oração do Angelus de 21 de janeiro, o Papa Francisco proclamou 2024 como o Ano da Oração. «Iniciamos hoje o Ano da Oração, ou seja, um ano dedicado a redescobrir o grande valor e a necessidade absoluta da oração na vida pessoal, na vida da Igreja e no mundo.» O objetivo é preparar o Ano Santo de 2025, cujo tema é Peregrinos da Esperança. Em 24 de dezembro de 2024, o Papa abrirá a Porta Santa da Basílica de São Pedro, em Roma, dando assim início ao Ano Santo.

Serão celebrados vários jubileus em todo o mundo. Para nós, no Luxemburgo, a celebração do 400º aniversário mariano coincidirá com o Ano Santo. Começará a 8 de dezembro, em memória do dia 8 de dezembro de 1624, dia em que o Padre Brocquart, acompanhado por jovens do Colégio dos Jesuítas, transportou a estátua da Consoladora para o Glacis, onde devia ser construída a primeira capela. Este jubileu terminará a 25 de maio de 2025, domingo de encerramento da Oitava.

Aos pés da cruz de Jesus estava sua mãe. Desde o início, Maria, Mãe que intercede por nós, está a caminho com a comunidade viva da Igreja. Cuidemos de seu culto de acordo com nossos muitos costumes luxemburgueses! Confiemos a ela todas as nossas comunidades, locais e nacionais.

Maria, sinal de esperança e consolação (Oitava de 2023), Consoladora dos Aflitos, seja a primeira a caminhar connosco.

Luxemburgo, 6 de fevereiro de 2024
Comemoração de São Paulo Miki e seus companheiros, mártires em Nagasaki em 1597

+ Jean-Claude Cardeal Hollerich
Arcebispo do Luxemburgo

Carta pastoral para a Quaresma de 2024
Domingos MARTINS
domingos.martins@cathol.lu
 
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