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27 de Fevereiro de 2023

Por uma Igreja “em saída”

Carta pastoral para a Quaresma de 2023

Caros irmãos e irmãs na fé,

Felizmente, após a pandemia, estamos novamente a desfrutar das saídas, a conhecer novas pessoas e a viajar pelo mundo. Uma realidade que ainda se aplica mais à Igreja tendo em conta a sua essência e a sua missão. O Papa Francisco usou a seguinte fórmula: “Fiel ao modelo do Mestre, é vital que hoje a Igreja saia para anunciar o Evangelho a todos, em todos os lugares, em todas as ocasiões, sem demora, sem repugnâncias e sem medo. A alegria do Evangelho é para todo o povo, não se pode excluir ninguém”. (EG 23)

Estas palavras aparecem na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium – A Alegria do Evangelho, escrita há dez anos como conclusão do Ano da Fé (2013). A análise impressionante da situação que aqui é feita continua atual nos nossos dias. Num discurso claro e refrescante, o Papa tem o cuidado de nos explicar o que significa a audácia de um novo começo para a Igreja.

A Igreja é sinodal

A dinâmica de recomeçar não é uma invenção do atual papa ou do Concílio Vaticano II. É, por assim dizer, parte do ADN dos crentes e da Igreja. Ela tem o seu fundamento na própria palavra de Deus. Abraão, por exemplo, respondeu ao chamamento de Deus e partiu para uma nova terra. Moisés tinha a missão divina de conduzir o povo judeu da escravidão à liberdade, conduzindo-o através do Mar Vermelho. Os profetas seguiram o chamamento de Deus para proclamar a Sua palavra, quer eles estivessem de acordo ou não.

E para nós cristãos, a missão é-nos dada pelo próprio Jesus e compromete-nos: «Ide, pois, e fazei discípulos de todas as nações». (Mt 28,19)

Caminhar, estar juntos (syn-) no caminho (-hodos), ir ao encontro do outro, ouvirmos juntos a palavra de Deus, rezar, inspirados pelo Espírito Santo, e discernirmos os próximos passos em conjunto, é desde o início uma característica fundamental da Igreja. Esta é a Igreja sinodal da qual o Papa Francisco fala e a que ele designa como «Igreja em saída».

A Igreja não é um fim em si mesma

A Europa e o mundo passam por um período difícil. As alterações climáticas, a pandemia e o ataque militar russo à Ucrânia, que já dura há um ano, estão a ter consequências que se estão a prolongar no tempo. A angústia e a ansiedade em relação ao futuro preocupam muitas pessoas. E é precisamente neste contexto, quando as pessoas precisam de esperança, que muitas comunidades religiosas estão elas próprias em crise e perderam a credibilidade. É com pesar que reconhecemos que houve fases em que a Igreja passou mais tempo a celebrar a sua própria perfeição e o seu poder triunfante do que ao serviço de Deus e do povo. O poder excessivo no exercício da sua autoridade levou a abusos espirituais ou sexuais por parte de homens e mulheres na Igreja. Atualmente todos estes casos são tratados com a máxima transparência e está em curso um trabalho consistente de prevenção a nível estrutural e pessoal, trabalho esse que vai continuar. A própria fé está em crise. Isto conduz-nos à questão de que imagem a Igreja tem de si mesma e da sua missão.

A Igreja e a Fraternidade Universal

No século XII, São Francisco de Assis dirigiu-se numa carta a todas as pessoas como irmãos e irmãs propondo um estilo de vida de simplicidade inspirado no Evangelho.

Nesta linha, o nosso Papa Francisco, a partir da primeira frase da sua encíclica Fratelli tutti (2019) traçou o objetivo da missão da Igreja: uma fraternidade mundial, uma solidariedade universal com todos, especialmente com os pobres e os marginalizados, através de uma vida em conformidade com o Evangelho. A Igreja deve compreender que está em movimento, junto com irmãos e irmãs de outras confissões, de diferentes religiões, mesmo com os não crentes. Deus é o criador de todos os seres humanos e Ele oferece o mesmo Amor a cada pessoa.

Ao lado da nossa responsabilidade para com todos os seres humanos temos como cristãos uma obrigação para com a criação que Deus nos confiou. É o lar comum de toda a humanidade. A preocupação com a preservação do ambiente faz parte do anúncio e da missão da Igreja. Na primeira encíclica da Igreja sobre o ambiente, Laudato si’ (2015), o Papa Francisco aborda um tema que não só nos une a todos aqueles que habitam a Terra, mas também nos torna responsáveis perante a nossa irmã e mãe, a Terra, que Deus criou, como também nos criou a todos nós. Estas são as suas palavras: “Esta irmã clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou”. Os desastres ambientais e o aquecimento global são sinais visíveis que nos devem levar a fazer um esforço coletivo para uma conversão ecológica. A Quaresma é o tempo propício para nós cristãos mudarmos nosso estilo de vida em favor da natureza e do ambiente, caminhando, usando a mobilidade suave, reduzindo o nosso consumo de energia.

Discípulos missionários

Na sua introdução espiritual à reunião sinodal europeia, em Praga, a 6 de fevereiro, o teólogo tcheco Tomáš Halík lembrou como os primeiros cristãos se proclamavam adeptos do Caminho. Eles caminhavam atrás Daquele que tinha dito: «Eu sou o caminho» (cf. Jo 14,6). Na ocasião Tomáš Halík afirmou: "Acredito verdadeiramente que vivemos um momento decisivo e que a orientação do cristianismo em direção à sinodalidade, esta transformação da Igreja numa comunidade dinâmica de peregrinos, será capaz de influenciar o destino de toda a família humana”.

No caminho em que Cristo nos acompanha, o encontro com Ele é decisivo, à escuta do Espírito Santo.

Ainda antes de sua eleição, há dez anos, o Papa chamava frequentemente a atenção para o famoso versículo do Apocalipse: «Eis que estou à porta e bato» (Ap3,20). Jesus pede para entrar na sua Igreja, nas nossas vidas, nos nossos corações. Mas hoje o Papa Francisco inverte o ponto de vista, dizendo que Jesus também bate de dentro para fora. Ele quer sair, e a nós cabe-nos segui-Lo. Além dos nossos limites espirituais, institucionais e confessionais, devemos sair ao encontro dos homens e das mulheres, em primeiro lugar dos pobres, dos marginalizados, daqueles que estão em dificuldade.

Quaresma

Amados irmãos e irmãs,

No início da Quaresma de 2023, gostaria de lembrar que a oração, o jejum e a partilha ajudam a fortalecer a nossa amizade pessoal com Jesus e a nossa solidariedade e fraternidade com nossos semelhantes. Neste sentido, deixo-vos algumas sugestões:

  • Todos os dias vamos tentar consagrar um tempo específico à oração: logo pela manhã, à noite ou durante o dia, de preferência sempre à mesma hora, num horário à escolha e com uma duração pré-definida.
  • Reduzir o nosso consumo: podemos tentar diminuir o tempo consagrado aos novos media, ou cortar em alguns alimentos, como por exemplo nos doces, na carne, no álcool, especialmente às sextas-feiras.
  • Reservar um orçamento para os pobres: esta decisão poderia também estender-se para os outros meses do ano, após a Quaresma. Há tantas pessoas, famílias, mulheres e homens que estão a criar os filhos sozinhos, e que têm medo do futuro, e que correm o risco de cair na pobreza, se é que já não estão.

Na Páscoa, celebraremos a ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo crucificado. Se levarmos a Quaresma a sério, como um tempo de preparação para esta festa central da nossa fé, é importante que este tempo se impregne na nossa vida agindo tanto no nosso espírito como no nosso corpo.

Ou não é verdade, que só não estando saturado de tudo o que açambarco durante um dia é que posso reservar um espaço para Cristo na minha vida, em benefício do meu próximo e do ambiente?

Aproveitar a Quaresma de 2023 como o tempo favorável para redescobrir a minha amizade com Jesus Cristo, para rever o meu compromisso social e a minha contribuição para a proteção da natureza.

O tema do Dia Mundial da Juventude que terão lugar em Lisboa no início de agosto é: «Maria levantou-se e partiu apressadamente» (Lc 1,39). Ponham-se a caminho como Maria, especialmente vós, queridos jovens amigos. Venham comigo às Jornadas Mundiais da Juventude, acompanhados com muitos outros jovens do Luxemburgo e do mundo inteiro. Eu preciso de vós para uma “igreja em saída".

Que Maria, a Mãe de Jesus, nossa boa consoladora, padroeira da cidade e do país, acompanhe a todos com seu exemplo e a sua oração.

Virgem e Mãe Maria,
Vós que, movida pelo Espírito,
acolhestes o Verbo da vida
na profundidade da vossa fé humilde,
totalmente entregue ao Eterno,
ajudai-nos a dizer o nosso «sim»
perante a urgência, mais imperiosa do que nunca,
de fazer ressoar a Boa Nova de Jesus.

Estrela da nova evangelização,
ajudai-nos a refulgir com o testemunho da comunhão,
do serviço, da fé ardente e generosa,
da justiça e do amor aos pobres,
para que a alegria do Evangelho
chegue até aos confins da terra
e nenhuma periferia fique privada da sua luz.

Mãe do Evangelho vivente,
manancial de alegria para os pequeninos,
rogai por nós.
Ámen.

(Extrato da oração final da Evangelii gaudium, 288)

Luxemburgo, 11 de Fevereiro de 2023
Festa da Nossa Senhora de Lourdes E o Dia Mundial do Doente

+ Jean-Claude Cardeal Hollerich
Arcebispo do Luxemburgo

Carta pastoral para a Quaresma de 2023
 
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